A brasiliense Marcela*, servidora pública, ainda enfrenta as consequências de um golpe aplicado pelo ex-namorado, Peterson Willener Barbosa Ribeiro, que resultou em um prejuízo de R$ 500 mil. Durante o relacionamento de cinco anos, iniciado após um reencontro da adolescência em uma escola do Distrito Federal, Peterson inventou uma grave doença renal para convencer Marcela a financiar supostos tratamentos médicos, incluindo sessões de hemodiálise em Goiânia e viagens fictícias a Dubai e Canadá para cursos profissionais. Ele alegava urgências constantes, escalando pedidos de empréstimos de valores modestos, como R$ 800, para quantias maiores, explorando a condição de servidora pública dela para acesso a créditos consignados. Marcela contraiu sete empréstimos, acumulou R$ 90 mil em dívidas de cartões de crédito e até assinou como fiadora de um imóvel, sem saber, arcando com aluguéis não pagos. A vítima relata que o golpe a deixou sem patrimônio após 12 anos de trabalho, pagando dívidas contraídas em seu nome, e destaca as marcas psicológicas, como vergonha e culpa, que a impediram de denunciar inicialmente.
O estelionato incluiu mentiras sobre internações e viagens, como uma suposta ida ao Maranhão para um casamento que, na verdade, era o dele próprio com outra mulher. Peterson admitiu ter exagerado um problema real de cálculo renal para obter dinheiro, negando a necessidade de hemodiálise. Após o rompimento, Marcela descobriu que não era a única vítima, com Peterson respondendo por outros estelionatos relacionados ao seu trabalho em construção. Orientada por uma advogada, ela registrou ocorrência por estelionato e acionou a Justiça do DF, resultando na condenação dele pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) em outubro deste ano. A pena é de dois anos e 11 meses em regime aberto, mais 20 dias-multa e R$ 1 mil por danos morais, em contexto de violência doméstica. A advogada Isadora Costa enfatiza os desafios em provar o crime, conhecido como estelionato sentimental, tipificado no artigo 171 do Código Penal, e como ele expõe a violência patrimonial e psicológica, afetando mulheres independentemente de escolaridade ou situação financeira.
Marcela reflete que o caso desmistifica estereótipos sobre vítimas de violência contra a mulher, mostrando que o amor pode ser usado como arma por golpistas. Apesar da condenação, ela ainda luta para recuperar o dinheiro, com o processo aguardando trânsito em julgado, e alerta sobre ciclos viciosos de mentiras que isolam as vítimas, impedindo-as de buscar ajuda familiar ou profissional.